segunda-feira, setembro 17, 2007

Angry Like The Wolf

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A propósito de um artigo de Miguel Esteves Cardoso e dos depoimentos de João David Nunes, David Ferreira e Zé Pedro, na edição de hoje do "Público", sobre a saida de António Sérgio da Rádio Comercial, escrevo esta posta.

O António Sérgio, responsável, com Ana Cristina Ferrão, por milhares das melhores horas de rádio sobre música pop/rock alternativa que ouvimos em Portugal, foi enviado para as "boxes" (apesar de ter sido mais para fora da pista) na Rádio Comercial, onde fazia a sua "Hora do Lobo", a horas de lobo e a concorrer com "putos", de outras estações, que cresceram a ouvi-lo, e com outras alternativas, mesmo locais, que não existiam quando ele era o único.

Na minha opinião, e só lhe desejando o melhor que, obviamente, não é manter-se sem emprego, fizeram-lhe um favor. O que estava António Sérgio a fazer na Rádio Comercial? Ele era o último azulejo do que, há muito tempo, foi uma enorme grandiosa composição de talentos, personalidades e doutores dos ouvidos. Hoje, como em tantas outras rádios, a Rádio Comercial não é muito mais do que um conjunto de vozes "giras", adequadas para fazerem vozes de continuidade, de estações de televisão, ou servirem como vozes "oficiais" de operadoras de telemóveis, e pouco mais. É verdade que essas "vozes", mesmo que tenham novos António(s) Sérgio(s) por trás, são domadas pelo paternalismo, da sabedoria computorizada mas feita por homens, da mãe de todas as rádios, essa suprema ditadora de gostos "top 40", a "playlist". Ironicamente, e tristemente, se António Sérgio não voltar à rádio, umas das suas actividades, porque é um profissional e não vive de quanto os outros gostam dele, é, precisamente, emprestar a sua voz a spots de programação da SIC.

António Sérgio é aquele Homem da rádio que, mesmo que muitos já não o ouçam, pelas mais diversas razões, e nenuma delas por o talento de António Sérgio ter desaparecido com vinis debaixo do braço, todos, sem excepção, dizem "foi com o António Sérgio que ouvi estes tipos pela primeira vez..." ou "se não fosse o António Sérgio nunca ouviria a música que ouço hoje".

Felizmente, e estou certo que António Sérgio concordaria comigo, hoje ele já não é o único, ao contrário do que Miguel Esteves Cardoso escreve. Há muitas pessoas, em algumas rádios e em alguma imprensa, com muito talento e conhecimento, muito graças ao caminho que ele começou a abrir há trinta anos, e que, hoje, ao lado dele, são vozes únicas, em união com a sua, para que a música única e rara não se cale.

Estou certo que todos eles diriam: "Obrigado, António, e não te cales. Precisamos de ti."