Ao chegar à sala do Coliseu, o que mais fiquei a temer é que Rufus fosse tocar para 60 pessoas, tantas quanto as que estavam para os The Grey Race , banda de Brooklyn, que faz as primeiras partes, de Rufus, nos quatro concertos espanhóis e no lisboeta, e que tem como membros Jon Darling (vocalista, guitarrista e compositor) Ethan Eubanks e o prestigiado baixista Jeff Hill, também músico de estúdio e de digressão de Rufus Wainwright.
Infelizmente, foram apanhados pela habitual falta de respeito do público, a que Rufus foi exposto em 2005, e que, por acaso, ontem fez referência a isso (á falta de público), quando abriu, também no Coliseu, para os Keane, quando, certamente, muito do público também ficou no bar, ás portas do Coliseu, ou a comer a última bifana esperando algo que não era o golo do Benfica porque isto de primeiras partes é sempre com bandas amadoras menores.
Mal os Grey Race sairam do palco foi ver o Coliseu a compor-se e rapidamente as seis dezenas, que estavam na sala, diluiram-se numa plateia completa, um balcão quase preenchido na totalidade mas com os camarotes vazios e pouca gente na zona do miradoro. No entanto, é muito lamentável que até, sensivelmente, ás 21:40, praticamente trinta minutos depois do início do espectáculo, ainda houvesse gente a entrar para a plateia e a procurar lugar no balcão.
Do excelente concerto de Rufus e da sua banda, ficou a certeza que Rufus devia ser visto, sempre, primeiro ao vivo e só depois se devia comprar o disco. Um pouco como acontece quando vemos um musical: compramos o disco não para subsituir o espectáculo mas para o recordarmos. Depois de ontem, os discos de Rufus passam a ter esse valor: de recordação.
Rufus Wainwirhgt é, de facto, um Grande performer. Um excelente actor. Ele pode nunca ter ido ao Museu dos Coches, nunca ter ouvido a "La Traviata", por Maria Callas, em 1958, no São Carlos, não ser uma Pequena Princesa e detestar Lisboa mas todos ficámos a acreditar no contrário assim como ficámos crentes que ontem foi a primeira vez que ele cantou, durante três horas, aqueles temas e, sem tentativas, consegui-o na perfeição à primeira. Não sabemos nem queremos saber que ele hoje estará numa outra cidade "mais bonita do mundo" ou que estará a fazer, pela enésima vez, como se fosse a primeira, um playback de "Get Happy", com roupa a preceito e coreografia ligeiramente inspirada na interpretação de Judy Garland no filme "Summer Stock" e a divertir umas centenas, se não forem milhares, de fãs, como fez ontem no Coliseu.
Para recordar, ficam momentos ("Get Happy") de um concerto em Londres e do concerto de Barcelona, que se repetiram ontem no Coliseu.
"Macushlah", sem amplificação, inspirado na interpretação do tenor, do princípio do século XX, John McCormack (o tema não é da autoria de John McCormack):
"A Foggy Day In London Town"
"Get Happy"